"(...) não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver"

Eu, fichada

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filha de dois pais: um fugitivo, o outro desaparecido. Fala alto e ri alto, é curiosa, acredita mais nas causas do que nas pessoas, soluça e lava a alma quando chora, deseja saber muitas palavras, ainda sobe em árvores tortas do Planalto Central, usa reticências redundantes, tenta disfarçar a grosseria, sai pela tangente, vive entre tapas e beijos.

cambada

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eu, buraco


Achei que com o passar do tempo, se eu prestasse atenção para não perder o momento certo, se eu permanecesse decidida, esperançosa, achei que conseguiria saber o que fazer com as ausências, que são tantas, e que, sozinha, me conformaria com explicações que eu mesma elaborei, na falta de quem me desse outras, perdida no meio das memórias que escondi. Eu sonhei pra fora, de novo, foi um erro. Não sobrou nada que pudesse ser dito, o desgaste deu até forma ao cansaço em mim e me mudou. Mesmo sem nada, achei que não sentiria mais o buraco bem no meio do meu peito se expandindo a cada vez que abro os olhos e que vai aumentando quando vejo a minha escova de dentes, ela me lembrando de tudo o que me espera depois do portão, e este, ao me oferecer para o mundo, se abre arranhando um barulho debochado e eu, já totalmente entregue à rua, sem armas, sorrio fingindo gratidão. Quisera eu ser tão grata quanto me engano...

Com as mãos cerradas, percebo o espaço tão grande que eu não preciso, sigo lembrando do desperdício de luz em meu quarto, coisas que não preciso, que não me despertam paixão, penso em jogá-las fora, e só penso.
E pensando tanto foi que eu senti cada uma das minhas verdades, que escondi para não assumir a minha teimosia - essa filha da puta boicotadora -, no fundo da minha alma e no fundo de algo mais além dela também, eu quis que ninguém me mostrasse, porque é doloroso demais precisar desistir, para continuar inteira. Não aprendi a desistir e virei um pedaço de mim. Só.

E tudo isso foi por que eu sonhei pra fora, o grande erro que, a(o)final, foi o que de bom me sobrou, porque foi o que, de fato, eu sabia de verdade; e provei, bem na enésima tentativa, depois de muito ensaiar, que certas coisas não mudam, simplesmente, por que não precisam ser de outra forma, é da natureza, assim como é natural que a vida se desprenda de pessoas, de motivos, de matérias, para seguir o seu curso, tentando parecer natural, ao menos.

Então, talvez eu tenha visto o tempo, o momento, talvez eu tenha permanecido. Eu, com meu corpo. E talvez o buraco seja o meu corpo se refazendo, porque eu sofro no corpo inteiro, o meu cansaço, a solidão a que me entrego se espalha nas vísceras, nas veias. Mas o buraco em meu peito, vejo agora, é naturalmente perfeito em seu vácuo, nesse nada que se fez lugar onde tudo pode ser concebido ou esperado.

quinta-feira, 29 de março de 2012

comiseração própria



 ...entrementes percebeu que havia reservado lugares para todos, mas não lembrou-se de deixar um que a coubesse, pois, essencialmente pensava em si mesma como uma possibilidade para as outras pessoas serem felizes e a única coisa que parecia boa é que ela não tinha mais vergonha de dizer que estava perdida.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Receita para me salvar

Vou transpor o banal quando versar o cotidiano de minha vida e minhas linhas não serão previsíveis, mesmo quando eu transcrever o óbvio. Quando eu morrer, não vai ser de saudade. Nem de tédio.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Eu tenho um plano

Vamos construir um viçoso jardim:
gérberas, orquídeas, lírios, jasmim, ipês
quintal multicolorido espargindo perfumes.
Alegria dos meus olhos, vigor e beleza:
tudo igual a você.

Vamos fazer planos à tardinha?
Você diz vem, meu coração, dar uma volta
e eu respondo te apertando e soluçando
que a felicidade nunca mais será perigosa.

Esperaremos o firmamento entenebrecer
preguiçoso e bem suave, 
engolindo brisas gentis, bêbados

Depois voltaremos para casa, trôpegos
você jogando seu olhar em cima de mim 
um desejo que a despeito de todos os erros

nos manterá na certeza, sempre renovada
de que não podemos nos esquecer por aí.

pois somos importantes, o amor nos enfeita.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

fim de ano e suas prosas

Meu pensamento compõe inúmeros planos, uns simples, outros altos, urgentes, caprichosos, todos imensuráveis, cuja meta comum é achar meu significado. Essa coisa de dar sentido à vida grudou em mim de tal forma que só Lispector poderia me explicar. Piora e parece querer explodir nesta época do ano em que o ar e água parecem nos enchem de sonhos para o futuro desconhecido que é o próximo calendário.

Eu sei que é um querer. Querer tanto, tanto, tanto que a vida parece cada vez mais pouca; às vezes tenho medo de não dar tempo, sabe, considerando que quero aprender demais, alimentar minha razão, a inteligência pela qual Deus me fez sua semelhante, sem jamais perder o fio de fé cega e intransigente a essa mesma razão que prezo, para que eu não esqueça que antes de humano, sou um ser espiritual.

Esperança sempre e muita.

Que tudo dê certo, nem que seja na gambiarra, com muito amor, é claro, para remendar meu coração que, por gosto, se rasga e se gasta dia após dia.

Juro que assim dá pra ser feliz.

Fernanda Azevedo

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

meu equinócio

ele: _ de que flor você gosta?
eu: _ gérberas.
ele: _ gérberas??
eu: _ é, ger-be-ras. por quê?
ele: _ nada não.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

resignação

sonhar era sua única ousadia
em vez de coragem
só tinha esperança
e para si mentia
achava que se parecesse
seria