Achei que com o passar do tempo, se eu prestasse atenção para não perder
o momento certo, se eu permanecesse decidida, esperançosa, achei que
conseguiria saber o que fazer com as ausências, que são tantas, e que,
sozinha, me conformaria com explicações que eu mesma elaborei, na
falta de quem me desse outras, perdida no meio das memórias que escondi. Eu sonhei pra fora, de novo, foi um erro. Não
sobrou nada que pudesse ser dito, o desgaste deu até forma ao cansaço em
mim e me mudou. Mesmo sem nada, achei que não sentiria mais o buraco bem no meio
do meu peito se expandindo a cada vez que abro os olhos e que vai
aumentando quando vejo a minha escova de dentes, ela me lembrando de
tudo o que me espera depois do portão, e este, ao me oferecer para o
mundo, se abre arranhando um barulho debochado e eu, já totalmente
entregue à rua, sem armas, sorrio fingindo gratidão. Quisera eu ser tão grata quanto me engano...
Com as mãos cerradas, percebo o espaço tão grande que eu não preciso, sigo lembrando do desperdício de luz em meu quarto, coisas que não preciso, que não me despertam paixão, penso em jogá-las fora, e só penso.
Com as mãos cerradas, percebo o espaço tão grande que eu não preciso, sigo lembrando do desperdício de luz em meu quarto, coisas que não preciso, que não me despertam paixão, penso em jogá-las fora, e só penso.
E
pensando tanto foi que eu senti cada uma das minhas verdades, que
escondi para não assumir a minha teimosia - essa filha da puta boicotadora -, no fundo da minha alma e no
fundo de algo mais além dela também, eu quis que ninguém me mostrasse,
porque é doloroso demais precisar desistir, para continuar inteira. Não aprendi a desistir e virei um pedaço de mim. Só.
E tudo isso foi por que eu sonhei pra fora, o grande erro que, a(o)final, foi o que de bom me sobrou, porque foi o que, de fato, eu sabia de verdade; e provei, bem na enésima tentativa, depois de muito ensaiar, que certas coisas não mudam, simplesmente, por que não precisam ser de outra forma, é da natureza, assim como é natural que a vida se desprenda de pessoas, de motivos, de matérias, para seguir o seu curso, tentando parecer natural, ao menos.
E tudo isso foi por que eu sonhei pra fora, o grande erro que, a(o)final, foi o que de bom me sobrou, porque foi o que, de fato, eu sabia de verdade; e provei, bem na enésima tentativa, depois de muito ensaiar, que certas coisas não mudam, simplesmente, por que não precisam ser de outra forma, é da natureza, assim como é natural que a vida se desprenda de pessoas, de motivos, de matérias, para seguir o seu curso, tentando parecer natural, ao menos.
Então, talvez eu tenha visto o tempo, o momento, talvez eu tenha permanecido. Eu, com meu corpo. E talvez o buraco seja o meu corpo se refazendo, porque eu sofro no corpo inteiro, o meu cansaço, a solidão a que me entrego se espalha nas vísceras, nas veias. Mas o buraco em meu peito, vejo agora, é naturalmente perfeito em seu vácuo, nesse nada que se fez lugar onde tudo pode ser concebido ou esperado.
Um comentário:
Vez ou outra dou uma passadinha aqui para ver o que tem de novo. Você demora tanto para atualizar, mas aí, de repente, você vem com um texto desses.
Eu já disse várias vezes que nunca sabia se o que você escrevia, era algo em que você estava passando ou sentindo, mas quando leio, consigo enchegar nessas suas palavras muitas conversas que tivemos.
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