"(...) não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver"

Eu, fichada

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filha de dois pais: um fugitivo, o outro desaparecido. Fala alto e ri alto, é curiosa, acredita mais nas causas do que nas pessoas, soluça e lava a alma quando chora, deseja saber muitas palavras, ainda sobe em árvores tortas do Planalto Central, usa reticências redundantes, tenta disfarçar a grosseria, sai pela tangente, vive entre tapas e beijos.

cambada

terça-feira, 12 de julho de 2011

A mala



Trago na mala um mundo que vi passando pela rua, num sopro. Um suspiro, suspiro doce derretendo no céu da boca dos bueiros, e luzeiros vindos de não se sabe onde para despertar olhos há muito atentos à malícia graciosa da Natureza.

Trago na mala paredes descoladas, fios de cabelos caídos, sapatos gastos, parcelas de mim que vivo a procurar no meu peito aberto e uma felicidade grata por poder optar sair de casa ou me acomodar nela em berros e silêncios.

Na mala, trago uma menina quadrada que se olha no espelho, ela está esperando, esperando, esperando, quem sabe, que a Terra inverta o movimento rotatório, mesmo sabendo que ela gira muito bem; é uma menina que tropeça fácil, mas levanta rápido.

Cabem muitas coisas nesta mala. Um nada de onde se tira tudo, mais um pouco e alguns pra sempre também. Envelopes, poeiras, fitas, olhos fechados, diluídos, sorrisos e colos, sexo, verbos desconjurados, adjtivos azuis, rosas virgens, explosão!

Na mala, há bolsos em que escondo as moléstias dos meus dias e outros em que guardo sachês perfumados de alegria alterada pela ordem dos sentimentos; outros há, ainda, para o sonho de um dia nu e eterno, para as roupas de vestir sorrisos e para os sapatos novos de caminhar no Sol.

Trago nesta minha preciosa mala, pessoas inventadas sobre pessoas que matei, exageros sob medida para quando pareço mais outra para quem nada mais importa, trago começos fáceis, um pouco de antes e pouco de depois.

Trago um desejo de ir adiante que, muitas vezes para e olha seu redor sugando outras vontades para dentro da mala, um desejo que às vezes me leva para a cama, eu esbravejando em vez de dormir e sonhar.

Em minha mala, percebo, estão as mais vivas e sinceras justificativas de uma bobagem que espera virar coisa séria um dia.

Um comentário:

renata.ferri disse...

Suspeito que essa aí seja aquela mala do Gato Felix.
:)

Adoro roupas de vestir sorrisos!

xoxo