"(...) não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver"

Eu, fichada

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filha de dois pais: um fugitivo, o outro desaparecido. Fala alto e ri alto, é curiosa, acredita mais nas causas do que nas pessoas, soluça e lava a alma quando chora, deseja saber muitas palavras, ainda sobe em árvores tortas do Planalto Central, usa reticências redundantes, tenta disfarçar a grosseria, sai pela tangente, vive entre tapas e beijos.

cambada

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sonhar para fora


Acordou lentamente, passou os olhos pelo cômodo tentando reconhecê-lo, estranhou toda aquela claridade do novo quarto, mas sentiu-se bem ali. Abriu a janela e viu que o céu estava suave, calmo, azul, rabiscos de nuvens, o sol ainda nascendo livre, de encher os olhos, primavera.

Sonhar para fora, ela pesou.

Até aquele dia, pensava que é foda, muito ruim sonhar para fora, afinal, tem sempre alguém pronto a dizer que não vai dar certo e ela se sente confortável em viver com a esperança que - por causa dela ou da natureza do próprio sentimento, não sabe dizer - a mantém sobre a ilusão (que ela não assume ser ilusão) de que um sonho é invencível, supremo, absoluto.

Andou pela casa, viu sua mãe, olhou seu irmão, todos dormindo ainda, sentiu-se feliz em vê-los. Se fosse descrever essa felicidade naquele momento, ela diria assim: sabe quando você sente alguma coisa crescendo no meio do peito e você fica pensando nas coisas do mundo, no tempo, nos motivos, em Deus e fica perdidinha dentro da sua cabeça, mas acaba sorrindo e chorando e sorrindo?

Ela pensava sobre o dia tão bonito, lembrou-se de uma saudade. Sentou-se naquela sua calçada pela primeira vez, flores roxas e amarelas a sua esquerda, acerolas nas mãos, viu que tinha coisas bonitas e que não sabia dizê-las, mas tinha coragem - porque é preciso coragem para não saber dizer e ainda manter a certeza. Levantou-se, buscou sua bolsa e seguiu andando, segurando o frágil fio que era sentir tanto, torcendo pra que esse sentir tanto durasse até o final da rua, do dia, que antes de acabar ela pudesse mostrar a alguém o quanto ela estava inteira em si, como nada lhe faltava.

Fechou seus olhos e foi sonhar como já havia feito inúmeras vezes, desejando que mesmo que por um dia somente o mundo não lhe cobrasse nada, porque sonhar faz com que ela queira pertencer a outro lugar, um bem diferente deste que ela não ama, um lugar que ela teme só existir dentro dela e não caber no mundo, um lugar sem fraquezas e vergonhas, onde é possível a liberdade que os livros dizem prometendo, que a lei garante mentindo, uma liberdade que ela só sabe ser uma coisa que a gente vive, não é ilusão e não tem nada a ver com o que o mundo diz que é, uma coisa que se nasce para ter, mesmo sem nem saber quem é, e que não acaba.

Já de olhos abertos, sentiu que ainda estava feliz, que o dia ainda não havia acabado e era mesmo de encher os olhos, ao menos os dela. Por que será que a gente acha que é alguém melhor, maior, se sente felicidade mesmo quando, com desdém à paz de uma manhã, tudo está tão torto e longe? Ela questionou por um momento e depois entendeu que é justamente a liberdade desconhecida dentro dela que a faz se sentir maior, feliz e torta, um salto desdenhoso para longe. Que isso é sonhar para fora.

4 comentários:

Neo disse...

Liberdade rimando com felicidade...
Belo texto. Li e reli..
Grande beijo
Ótima semana

Neo

Neo disse...

Passando pra desejar boa semana.
Grande beijo.

Neo

Anônimo disse...

Fêzinha, cabeçudinha da minha vida.


Incrivelmente lindo o jeito que vc consegue descrever o que não se descreve.

Eu sinto tudo "isso" e muitas vezes.

p.s: foi bom te ver felizinha ao lado do seu bofe.rs

Teamo altista!

beijo saudades!

Neo disse...

Olá..
Eu de novo.. passando pra dizer oi e deixar um beijo.

Neo
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@todosossentidos